Autores EDUCS em destaque: saiba mais sobre Aldo Francisco Migot

Assessoria de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul - 16/01/2024 | Editado em 17/01/2024
Autor explora temáticas religiosas e a história da imigração italiana na região da Serra

Aldo Francisco Migot nasceu em 6 de maio de 1935 em Arroio Canoas, localidade à época pertencente ao município de Montenegro (RS). Cursou Filosofia no Seminário Maior de Viamão, de março de 1956 a dezembro de 1958. No mesmo Seminário, também cursou Teologia, de março de 1960 a dezembro de 1963. Quando professor da Universidade de Caxias do Sul, fez Mestrado em Filosofia pela PUCRS, com dissertação sobre o Direito de Propriedade, em Santo Tomás de Aquino. Seu gosto pela leitura nasceu dentro da família e sua carreira dentro da pesquisa e da Universidade o levou a trilhar uma história como autor. Confira na entrevista a sua trajetória.

Fale um pouco sobre você. Qual é sua formação?
Sou filho de Antônio Migot e Maria Thereza Chies, ambos filhos de imigrantes italianos procedentes, respectivamente, do comune de Fontanelle, província de Treviso, e do comune de Fregona, também província de Treviso. Treviso faz parte da Região do Vêneto, cuja capital é Veneza. Meus avós paternos, Sante Migotto e Maria Dalla Vecchia, partiram da Itália em maio de 1879 e chegaram ao Brasil em 5 de junho: 20 dias de viagem com o vapor Savoie. Meus avós maternos, Antônio Chies e Lúcia Canal, ainda solteiros, imigraram na mesma data e com o mesmo vapor (navio). Os Migotto eram naturais de Fontanelle. Os Chies eram naturais de Fregona, mas tinham migrado para Fontanelle em busca de sobrevivência. Daí o porquê de partirem do mesmo lugar, no mesmo dia e no mesmo vapor. Ambas as famílias (Migotto e Chies) foram assentadas na localidade de Santa Clara, localidade pertencente à Colônia Santa Maria da Soledade, município de Montenegro. Atualmente, Santa Clara pertence ao município de Carlos Barbosa. Sou o 15º filho, e último, de uma família de pequenos agricultores. Cursei ensino de primeiro e segundo graus no Seminário Nossa Senhora Aparecida, em Caxias do Sul, de março de 1949 a dezembro de 1955. Cursei Filosofia no Seminário Maior de Viamão, de março de 1956 a dezembro de 1958. No mesmo Seminário, cursei Teologia, de março de 1960 a dezembro de 1963. Quando professor da Universidade de Caxias do Sul, fiz Mestrado em Filosofia pela PUCRS, com dissertação sobre o Direito de Propriedade, em Santo Tomás de Aquino.

Quando e como o livro entrou em sua vida?
Em primeiro lugar, peguei o gosto pela leitura. Na minha família, cultivava-se o hábito da leitura, não obstante a carência de livros. Liam-se: a Seleta em Prosa e Verso, a História Sagrada (textos da Bíblia), com edição em italiano e em português; O Correio Riograndense, semanal; livros escolares e livros de História e Geografia. Ao longo de 14 anos de vida seminarística, em regime de internato rigoroso, a leitura foi sempre muito incentivada. Havia livros e muito tempo disponível. Em 1976, um grupo de professores da UCS preparou a introdução do Primeiro Ciclo no currículo da Universidade e os professores dessa área foram desafiados a usar livros próprios. Escrevi, então, Estudos Brasileiros, editado pela UCS, em 1978, com 276 páginas, contendo matéria sobre axiologia, história, realidade econômica, realidade social e realidade política. O livro destinava-se à disciplina de Estudo de Problemas Brasileiros I (EPB I). O livro esgotou-se rapidamente, então preparei uma segunda edição, com praticamente o mesmo texto. Também esgotou-se. Em 1982, preparei uma terceira edição ampliada: Estudos Brasileiros, terceira edição ampliada (EDUCS, 1982, 271 pp.). Ao mesmo tempo, tendo que lecionar a disciplina de Introdução à Universidade, preparei um texto de 95 páginas que não foi editado, apenas multiplicado entre os meus alunos. Em 1986, a Secretaria Municipal de Educação de Carlos Barbosa propôs-me a elaboração da história do município. Resultou num texto de 671 páginas, editado pela EDUCS, em 1989, com o título de História de Carlos Barbosa. Em 2008, pela editora Belas Letras, de Caxias, foi publicada uma segunda edição da História de Carlos Barbosa, pois a primeira tinha esgotado. Esta segunda edição, mais elaborada, tem 412 páginas, com alguns textos novos e outros excluídos, em parte, porque ocorreu a emancipação de Barão, anexando áreas de Carlos Barbosa. Em 2003, foi publicada pela EDUCS minha dissertação de Mestrado: A Propriedade, Natureza e Conflito em Tomás de Aquino, 135 pp. Em 2015, no Primeiro Encontro das famílias Chies no Brasil, publiquei Chies no Brasil desde 1879 (Editora Evangraf, de Porto Alegre, 566 pp.). Em 2023, pela EDUCS, publiquei Migot(to) no Brasil desde 1879, por ocasião do Primeiro Encontro dos Migot/Migotto no Brasil. Foi assim, de forma quase espontânea, que escrevi meus livros, um passo chamando outro, sempre motivado pela família e pela sociedade.

Como a sua formação interfere no processo de autoria dos livros?
Minha formação de 14 anos no Seminário Nossa Senhora Aparecida, em Caxias, e no Seminário Maior de Viamão (Filosofia e Teologia) teve sempre um caráter clássico, voltado para o estudo de História, Literatura e Línguas e, naturalmente, com viés filosófico e teológico. Além disso, tive a felicidade de ter ao meu lado colegas que liam muito e escreviam, tais como José Clemente Pozenato, Oscar Bertholdo, João Mohana, Ernildo Stein e Luis Alberto De Boni, entre outros. Além disso, como sacerdote (durante 10 anos) e como docente universitário (durante 41 anos), o apelo de pesquisar e escrever, nessas áreas, sempre esteve presente.

Quando decidiu publicar seu primeiro livro? Quais fatores contribuíram ou dificultaram o processo? Qual foi o livro?
Em verdade, minha primeira incursão no mundo editorial, que acima não citei, é de caráter religioso: Catecismo. A quinta edição, esgotada, com 92 páginas, saiu em 1980, com aprovação de Dom Paulo Moretto. Escrevi com dupla motivação: o evento do Concílio Ecumênico Vaticano II, que provocou profunda reflexão sobre a Fé; e o desejo de contribuir para os professores de escolas primárias nas periferias, na tarefa de propor reflexão religiosa. Eu era diretor da Escola Primária São Vicente de Paulo, situada em um bairro pobre de Caxias do Sul. No contexto universitário, devo essa pequena e saborosa aventura aos proponentes da introdução do 1º Ciclo na Universidade de Caxias do Sul. Desafiaram-me a escrever um texto que servisse de base às aulas de Estudo de Problemas Brasileiros (EPB I). Foi editado em 1977, com o título de Estudos Brasileiros, com 276 páginas. A disciplina EPB I tinha duração de um semestre, e era obrigatória.

Quantos livros você escreveu?
Escrevi sete livros, com destaque para a História da Imigração Italiana, no Rio Grande do Sul.

Qual seu livro mais recente e do que se trata?
Meu livro mais recente, Migot(to) no Brasil desde 1879, foi lançado em 2023. Trata da história simples de dois irmãos, Sante Migotto e Giacomo Migotto, que no ano de 1879 migraram do comune de Fontanelle (província de Treviso, Região do Vêneto, Itália) para o Brasil. Foram assentados, com suas famílias, em Santa Clara, localidade hoje pertencente ao município de Carlos Barbosa. Giacomo, o mais velho dos dois, teve somente filhas, que casaram com Scottà, Canal e Dotta. Por isso, o livro fala dos Migot/Migotto e dum ramo dos Scottà, Canal e Dotta. Com o passar do tempo, descobriu-se que havia outras famílias Migotto no Brasil. Destas, o livro oferece curtas informações, notícias. O livro tem o objetivo primeiro de informar sobre a origem e o nome dos antepassados. Apenas as famílias cujo contato foi mais fácil e mais próximo. Contém também dados sobre as gerações atuais. O livro não se compõe apenas de nomes. Apresenta, também, elementos da história da Itália e dos costumes dos imigrantes e descendentes no Brasil. No fundo, é uma contribuição para a história da imigração italiana no Sul do Brasil.

Qual a importância de contar a história da família de forma tão detalhada?
Na medida do possível, colhi muitos nomes de muitas famílias, num trabalho estafante, para que os diferentes troncos familiares se identifiquem, valorizem sua própria história e cultivem o passado como fonte de inspiração e valor. Os nossos imigrantes têm uma história que merece apreço e conhecimento.

A escrita dessa obra sobre a história da Família Migot trouxe quais descobertas?
Revelou um desejo incontido de desvendar as linhas do parentesco que a voracidade do tempo queria apagar. Deparou-se, também, em casos isolados, mas não desprezíveis, com ilhas de conformismo, no sentido de que o passado estaria vencido, nada havendo para contar. Mas, felizmente, constatam-se, nas novas gerações, pessoas pesquisando a história escrita com suor e sangue por essas figuras rudes e encantadoras, que criaram “paesi e città”.